A MENINA

A menina olhava o piso frio de cimento queimado e achava lisinho, lisinho. No calor do agreste, gostava de deitar e sentir o frio do chão em todo o corpo. E ficava olhando para as telhas, sabia que guardava insetos vários, por mais que sua mãe limpasse com aquele vassourão de palha. Também, com tanta madeira e brechas, eles bem que podiam todos ficar escondidos só esperando a noite para sair.

                                                      Imagem fonte: http://rosefotografia.blogspot.com.br/p/making-of.html

Por que Deus colocou insetos no mundo? Que coisa mais difícil de entender! Sabia que Ele tinha criados todos os animais, até os mais assustadores. “Foi o homem que pecou, minha filha, e trouxe a maldade pro mundo. Antes, todos os animais eram mansos e brincavam com Adão e Eva, mas no paraíso tudo vai voltar a ser assim.”                             

A menina é que não queria saber de baratas e besouros brincando no seu colo no paraíso, Deus precisava saber disso. E também não entendia se o paraíso seria um bosque, como o Éden, ou aquela cidade reluzente de ouro e cristal. Esta lhe parecia bem sem graça! Se ninguém ia se importar mais com dinheiro e riquezas, para quê uma cidade de ouro e cristal? A ideia de tudo amarelo e resplandecente não lhe agrava, ofusca-lhe até o pensamento. 

                   E ficava ali no chão, deitada, sem saber se preferiria o Éden com toda sorte de bichos ou a cidade de outro e cristal. O paraíso lhe era um problema. Como a morte parecia distante, adiava a escolha. Que bom que  tinha tempo! Que bom que ela tinha aquele chão frio de cimento queimado! Que bom que tinha o vassourão para a mãe limpar e tanger os insetos do telhado! Que bom que as casas da rua tinham tantas cores...

19/08/11